domingo, 4 de janeiro de 2009

E já que pedir não custa...

Não é meu, mas podia ser...São intemporais e dão imenso jeito...para qualquer ano, celebração ou só porque sim.
1ª passa: Tempo
Este ano vou ter tempo. Vou escapulir-me mais cedo do trabalho para entregar o corpo a massagens. Vou ao cinema uma vez por semana, sessões duplas se for preciso, Tarantino ou Oliveira. Vou contorcer a agenda para marcar jantares de amigos, daqueles que se alongam até virarem ceia, pequeno-almoço. Vou esticar-me no sofá, indiferentes à loiça que grita para ser lavada. Vou dar um beijo aos pais sem ser no Natal. Vou ter tempo para mim, para rir agarrada à barriga, para ler revistas à beira rio. Vou enterrar o telefone debaixo do colchão, atirar o despertador contra a parede, dormir mais uma hora, fazer da preguiça um pecado imortal.
2ª passa: Corpo
Este ano vou deixar o ginásio onde não ponho os pés, onde não levanto pesos, onde o rabo não diminui, onde os músculos não aumentam, onde a carteira emagrece. Vou calçar os ténis e subir e descer colinas, para isso temos sete. Vou passear o cão mais vezes, ensiná-lo a atirar a bola para a apanharmos. Vou correr os metros que conseguir, hoje dois, amanhã quatro, para o ano a maratona. Vou comprar uns patins, arranhar os joelhos. Vou dançar na sala, pular na cama, trepar paredes, subir um andar a pé, mais dá-me cabo dos rins. Vou desejar com muita força que o corpo ganhe contornos de escultura. Esperar para ver.
3ª passa: Comida
Este ano não vou renegar um hambúrguer, umas batatas gordurosas, uma piza familiar. Não vou ostracizar os brócolos por serem verdes, torcer o nariz aos espinafres, fazer a segregação da cebola. Não vou desmaiar com os transgénicos, benzer-me perante salada pronta-a-servir. Vou deixar o enjoo de lado para experimentar peixe cru, perceber que se perderam anos de vida, nunca mais querer outra coisa. Vou espalhar tachos pela cozinha, sujar o fogão, errar até fazer bem, perceber que a comida feita existe por algum motivo. Vou tornar-me rainha da cozinha, impressionar o mundo. Vou estourar dinheiro num restaurante caro, vou sentar-nos numa tasca. Vou esquecer a ASAE e voltar ao pato à Pequim.
4ª passa: Nós
Este ano vou ajoelhar-me para um pedido de casamento. Vou ganhar coragem para lhe dizer que tenho outro, que o seu melhor amigo se faz a mim, e eu a ele. Vou mudar de casa, uma tão grande como os meus sonhos. Vou dizer-lhe que o amor já lá vai, passou. Vou tentar ter um filho. Vou apanhá–lo com outra, vomitar todas as lágrimas e arranjar um novo amor. Vou esquecer as paixões de 2008, de 2007, todas as que me espatifaram o coração. Não vou dizer que o problema sou eu, não eles, porque às vezes são mesmo eles. Vou fingir que nunca disse “nunca mais” e vou viver tudo de novo. Vou dizer “desculpa”. Vou esperá-lo com o jantar feito. Vou levá-lo à bola. Vou pedir–lhe a chave de casa. Vou dizer “não desculpo”.
5ª passa: Alma
Este ano vou ser solidária. Vou mandar trabalhar quem exigir cinco euros para “uma sopinha”, pagar um cornetto--morango a quem o pedir com convicção. Não vou dizer “para comida sim, droga e vinho é que não”. Vou sacar de uma moeda quando a intuição nos mandar, oferecer o último cigarro, esticar o isqueiro para lume. Não vou deixar gorjetas ao empregado que me levou o copo que ainda tinha vinho, ao taxista que quase me abateu a tiro por pedir factura. Vou dar a volta ao armário, deixar partir calças que nunca viram a luz do dia, livros que já foram lidos, pacotes de arroz em excesso.
6ª passa: Viagens
Este ano não dou a volta ao mundo, mas dou voltas no mundo. Vou fazer o mapa de carro, escolher a low cost mais barata, somar cidades. Vou para fora cá dentro, vou para fora lá fora. Vou ao castelo de 28, vou ver Lisboa de barco, vou ao Porto pelos carris. Vou estar em movimento, vou ficar parada a olhar para Nova Iorque, Roma, Madrid, Xangai. Vou ter saudades de casa. Não vou querer voltar.
7ª passa: Poupança
Este ano vou virar o porquinho ao contrário, pescar as últimas moedas, jurar que tudo será reposto. Vou resistir ao crédito tão fácil que só pode ser difícil, ao empréstimo de seis meses que é para a vida toda, ao dinheiro emprestado que é sempre vendido. Vou fazer explodir o subsídio de férias, pôr nos pés uns sapatos de dezenas, na parede um plasma de milhares, não é verdade que uma vez não são vezes? Vou fazer contorcionismo orçamental até ao final do mês, dos meses, do ano. Vou suspirar por mais, vou ser felizes com menos. Vou fechar a poupança-reforma, abrir uma conta-vida.
8ª passa: Gritos
Este ano vou gritar com a EMEL, rasgar em pedacinhos a décima-oitava multa, lançá-la ao ar versão confetti. Vou inverter os papéis, gritar com o chefe, exigir um “obrigado”, um “por favor”, um sorriso? Vou gritar com quem deixar o cão aliviar-se nos passeios públicos, com quem não parar na passadeira, com peões que se arrastam na passadeira. Vou gritar pelo Benfica, gritar com o Sporting. Vou gritar com a crise, com os professores, com os bancos nacionalizados, com o prato que se desfez no chão, com o três no Euromilhões, com a chuva sem chapéu à vista.
9ª passa: Parvoíces
Este ano vou oferecer abraços a quem passar, vou para a janela lançar bolas de sabão. Vou pôr um trampolim no meio da rua e cobrar um euro por salto. Vou trabalhar com um fato de Batman, assegurar que só posso trabalhar em missões heróicas ao serviço da pátria, nada de mandar mails ou atender telefones. Vou andar de bicicleta na rotunda do Marquês. Vou pedir um beijo na boca a um estranho. Só para ver a que é que sabe.
10ª passa: Eu
Este ano vou jantar fora sozinho, pedir só um bilhete no cinema. Vou passar um fim-de-semana inteiro de pijama, sem lavar os dentes antes de dormir. Vou apagar o teu número de telefone e verter lágrimas agarrada a um peluche. Vou cortar a franja e pintar as unhas dos pés na mesa da sala. Vou aprender espanhol, mandarim, informática e cozinha do Camboja. Vou atravessar o restaurante para dizer que o miúdo aos berros me tira o apetite. Vou ver novelas às escondidas, ler romances pop debaixo dos lençóis. Vou mandar o bife para trás as vezes que forem precisas, voz firme, olhar erguido. Vou dizer que não gostei da prenda, exigir o talão de troca. Não vou encher o mundo com as minhas dores, bem bastam as dores do mundo.
11ª passa: Confissões
Este ano vou pôr tudo em pratos limpos. Vou contar quem fez o risco na porta esquerda do carro, quem atacou a poupança para comprar o gadget. Vou contar que aquelas férias com amigos no Algarve, há doze anos, afinal foram em Ibiza. Com o namorado oito anos mais velho. Que não tinha carta. E que era sensível ao álcool. Vou dizer que menti, que aquele vestido a transforma num cachalote, não a faz parecer mais nova, muito menos magra. Vou anunciar que foi por medo que não entrei na montanha-russa, não foi bem por prescrição médica. E que o deixei casar com outra porque fui estúpida. E terei que viver com isso para sempre.
12ª passa: Horóscopo
Este ano não quero saber se Leão vai bem com Virgem, se Capricórnio irá para a cama com Peixes, se Sagitário só poderá ser feliz com Balança. Vou dar fogo às previsões que anunciam dores de dentes, febres altas e Júpiter na casa de Saturno. Vou rir-nos das boas probabilidades de aumento, de negócios de milhões, de amores para toda a vida. Não me digam que Abril vai ser um mês excepcional, que em Agosto pode estar calor e que em Novembro é capaz de chover. Não tracem a minha vida por um ano, que a mim só me importa o hoje.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ano Novo, Desejos Antigos...

Como sempre nesta altura do ano fazem-se novos desejos, definem-se objectivos, traçam-se metas...que são tudo menos novas.
Queremos sempre o mesmo...sentirmo-nos bem, com saúde, sentirmo-nos amados, ser felizes... É um fechar de mais um ciclo e ciclos são bons. São organizadores.
Dão a sensação de dever cumprido e ao mesmo tempo permitem-nos começar de novo.
É bom! Soltem os fogos!!! 2009 está ai!